Artigo traduzido por Hilton Sousa. O original está aqui.
"Cada um tem dentro de si um médico; nós precisamos apenas ajudá-lo em seu trabalho. A força de cura natrual dentro de cada um de nós é a maior força de melhora. Nossa comida deve ser nosso remédio. Nosso remédio deve ser nossa comida. Mas comer quando se está doente é alimentar a sua doença" - Hipócrates
e
"Ao invés de tomar remédio, jejue por um dia" - Plutarco.
Por milhares e milhares de anos (durante a maioria dos quais as pessoas com sobrepeso, e quem dirá as obesas, eram muito raras), o jejum terapêutico foi um protocolo comum para a cura de muitas doenças. De famosos como Platão, Aristóteles e os supramencionados Hipócrates e Plutarco, a pacientes de câncer incapazes de comer durante a quimioterapia, a cães e gatos que repentinamente perdem o até então voraz apetite, parece que a resposta natural a - e talvez a terapia para - doenças seja parar de comer por algum tempo.
Agora, "natural" nem sempre é bom. "Ser" não necessariamente implica "dever". Mas eu acho que a persistência desse fenômeno na natureza demanda que olhemos com um pouco mais de cuidado se há algo ligado a ele. De bebês colocando coisas que encontram no chão em suas bocas para introduzir novas bactérias em seus corpos, a fisiculturistas tendo compulsão por carne após uma sessão dura de malhação, para introduzir proteína em seus músculos famintos, a mulheres grávidas experimentando fortes aversões a comidas para minimizar a chance de introduzir toxinas ou venenos no feto, eu tenho a opinião geral de que há usualmente uma explicação fisiológica para a maioria das nossas compulsões e comportamentos estranhos. Eu não vejo razão pela qual uma falta de apetite repentina não teria uma explicação similar - especialmente uma que transcende espécies. E se "pular" refeições por m dia disparasse processos internos de cura , de alguma maneira ? Isso é realmente tão incoerente ? Você já sabe onde eu me posiciono sobre a importância das lições aprendidas da observação dos nossos companheiros animais, e acho que dessa vez não é diferente.
Felizmente para nós, não estamos apenas especulando. A ciência moderna tem direcionado pesquisa para o fenômeno, particularmente relacionado ao câncer, que vale o custo. De acordo com Valter Longo, um pesquisador de câncer da USC, "células normais" entram em modo sobrevivência durante a fome. Elas demonstram "extrema resistência ao estresse", até que o período de "vacas magras" termine, mais ou menos como um animal em hibernação. Células de câncer, por outro lado, estão sempre "ligadas". O seu "objetivo" é crescer, reproduzir-se e consumir recursos. Para as células de câncer, não há modo sobrevivência que possa ser ativado. Se é esse o caso, jejuar deveria tanto aumentar nossa resistência ao câncer quanto a habilidade do nosso corpo de sobreviver a ele (e ao stratamentos usados contra ele, tais como quimioterapia).
Apesar de testes em humanos serem raros (você não pode exatamente injetar pessoas com células de câncer e então tentar diferentes protocolos terapêuticos), a pesquisa com animais é intrigante. Vamos dar uma olhada na literatura ?
Testes com animais
Em um dos estudos mais antigos, 48 ratos foram divididos em dois grupos de 24. Um grupo comeu à vontade por uma semana, enquanto o outro passou por dias de jejum alternado. Após uma semana de vários protocolos dietários, ambos foram injetados com câncer de mama. Nove dias após a injeção, 16 dos 24 ratos que jejuavam permaneciam vivos, enquanto apenas 5 dos ratos que comiam à vontade estavam vivos. Dez dias após a injeção apenas 3 dos ratos que comiam à vontade viviam; 12 dos 24 ratos que jejuavam permaneceram vivos. Discrepância bem grande, concorda ?
Isso foi em 1988. Somente no final dos anos 90 mais pesquisas promissoras foram feitas. Foi quando Longo começou a estudar a sério da resistência celular ao estresse oxidativo durante o jejum. Percebendo que uma vez que a quimioterapia exerce seus efeitos sobre o câncer ao induzir estresse oxidativo (a todas as célullas, não apenas as cancerosas), e que o jejum dispara o modo sobrevivência nas células normais mas não nas de câncer, ele conduziu um estudo em ratos para determinar se jejuar protegia as células saudáveis e normais dos efeitos colaterais da quimioterapia enquanto deixava as células de câncer sensíveis ao tratamento. Ratos com tumores foram alimentados normalmente ou jejuaram por 48h antes de uma dose grande de quimioterapia. A metade dos ratos alimentados normalmente morreu pela toxicidade da quimioterapia, enquanto todos os ratos que jejuaram, sobreviveram. Além disso, o jejum não aumentou a taxa de sobrevivência das células cancerosas, implicando que ele protegeu apenas as células normais, saudáveis.
A pesquisa continuou. Longo descobri que "estresse dependente de fome" protege as células normais, mas não as células de câncer, contra os efeitos da quimioterapia. Mesmo um regime de jejuns "modificados" em dias alternados, no qual os ratos recebiam 15% das suas calorias normais em dias de "jejum", reduziram a taxa de proliferação das células tumorais. Esse regime de "85% de jejum" foi aida mais efetivo que os 100%. E mais recentemente, Longo e outros demonstraram que o jejum retardou tanto o crescimento dos tumores quanto sensibilizou as células cancerosas aos efeitos da quimioterapia - em uma grande gama de tipos de tumores. Mais importante, eles concluíram que jejuar pode "potencialmente substituir ou melhorar" certos tratamentos de quimioterapia! Isso não vem de algum guru de dieta da moda falando sobre o conhecimento ancestral tradicional, pessoal. É um oncologista pesquisador.
Testes em humanos
Só houve um teste em humanos, que eu saiba: um estudo de caso de 2009 que produziur resultados promissores. Dez pacientes com câncer - quatro com câncer de mama, dois com câncer de próstata, e quatro outros câncer de ovário, pulmão, útero e esôfago respectivamente - mantiveram jejum antes e depois da quimioterapia. As durações dos jejuns variaram de 48 a 140 horas antes, e de 5 a 56 horas após; todas foram efetivas em reduzir os efeitos colaterais da quimioterapia.
No primeiro caso, uma mulher de 51 anos com câncer de mama fez sua primeira bateria de quimioterapia durante um jejum de 140 horas. A não ser por boca seca, fadiga e soluços, ela se sentiu bem o suficiente para ir trabalhar e retomar suas atividades rotineiras. Nas duas sessões seguintes ela não manteve o jejum e ao invés comeu sua dieta normal, e os efeitos colaterais foram extremamente pronunciados - fadiga severa, diarréia, fraqueza, dor abdominal, náusea - e a impediram de retornar ao trabalho. Para a sua quarta sessão de quimioterapia, ela jejuou e novamente os efeitos colaterais foram minimizados. E não foram apenas os efeitos subjetivos que melhoraram com o jejum, mas também seus marcadores fisiológicos. Total de linfócitos, contagem absoluta de neutrófilos e contagem de plaquetas foram todos mais altos após os jejuns.
Mais testes em humanos estão em procedimento, entretanto. Esperançosamente, eventualmente saberemos se a perda de apetite comumente descrita durante a quimioterapia é um defeito ou um mecanismo natural (eu pessoalmente me inclino para o segundo caso)
Outros possíveis mecanismos protetores
Resistência à insulina melhorada. Como eu mostrei na semana passada no artigo sobre jejum e perda de peso, o jejum intermitente promove a sensibilidade à insulina e reduz a resistência à insulina. A resistência á insulina tem sido associada a diversos cânceres, incluindo próstata, mama, e pâncreas. A síndrome metabólica, que o jejum parece ajudar a prevenir e reduzir, está associada ao câncer em geral.
Autofagia. Enquanto a autofagia - o processo pelo qual as células "limpam o lixo celular" - tem uma relação complexa com o câncer, é geralmente um processo positivo que protege as células do estresse oxidativo excessivo. Já se demonstrou que jejuar induz “profunda” autofagia neuronal, bem como autofagia geral.
Jejuar versus restrição calórica
É verdade que a restrição calórica parece oferecer benefícios anti-câncer, mas há algumas maneiras através das quais o jejum pode ser superior.
- Jejuar (ataques agudos de restrição calórica) é mais fácil que redução calórica crônica para a maioria das pessoas. Como eu mencionei no artigo da semana passada, jejuar - para alguns - é simplesmente a maneira mais fácil, mais natural, e de menor esforço, para reduzir sua ingesta calórica. Isso pode gerar dividentos enormes no que diz respeito à perda de peso, e parece provável que isso ajude com o câncer também. Se jejuar é mais fácil que constantemente contar suas calorias, jejuar vai funcionar melhor.
- Jejuar é mais efetivo no curto prazo. Enquanto os estudos envolvendo restrição calórica e câncer empregam escalas de tempo baseadas em semanas ou meses, estudos sobre câncer que envolvem jejum empregam horas e dias. Na maioria dos casos jejuar simplesmente parece requerer muito menos tempo para ser efetivo.
É uma época excitante para pesquisa de câncer e jejum. Enquanto ele ainda é visto em muitos círculos como uma "alternativa", o jejum agora está sendo seriamente considerado como possível tratamento (tanto adjunto quanto primário) para vários cânceres, incluindo mama e próstata. Eu não posso esperar para ver o que vem por aí nos próximos anos.
É claro, meu sentimento é de que jejuar é mais fácil e mais efetivo se você já fez a transição para uma maneira primal de comer. Em outras palavras, quando você já regulou aquele sistema de queima de gordura e diminuiu a dependência da glicose, muitas das outras questões que fazem o jejum menos atraente para "queimadores de açúcar" tendem a sumir: o cortisol se equilibra, a proteína muscular é poupada, a foem reduz-se naturalmente e a energia é constante.
O que isso significa para você - pesso aque ou tem câncer e quer se livrar dele, ou que não tem câncer e quer continuar desse jeito ? Pesquisadores como Valter Longo não podem oficialmente recomendar jejum para pacientes de câncer, mas ele parece bem tolerado e basicamente seguro. Se você ou alguém que você conhece tem câncer, sugira jejuar como uma estratégia possível. Enquanto uma pessoa mantiver seu oncologista informado da situação e de qualquer pesquisa relevante sobre o assunto, ele pode se mostrar útil. E se você está atualmente livre do câncer, considere implementar jejuns ocasionais, só para garantir. Eu sei que pesquisas como as que mostrei, me convenceram que definitivamente vale a pena, e se há um lado ruim, ele é muito pequeno.
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