Comida Saudável
A árvore da fruta que não fotografei. Ou: saudade da taiuveira de Fartura
Hoje, dia da árvore, lembrei da taiuveira (Maclura tinctoria) do pasto, lá em Fartura. Assim que meus pais compraram o sítio, descobrimos duas árvores, uma delas ao pé de uma mata, gigantesca, sem espinhos, boa pras crianças treparem. E nós, adultos, também. Os frutinhos verdes, taiuvas ou amoras brancas, eram discretos, da mesma cor das folhas, mesmo quando maduros. Sobravam pouco para nós, que comíamos só por divertimento. O resto era comida de passarinho. Doce e leitosa, sem acidez nem aroma muito pronunciado, as taiuvas nos distraiam na caminhada.
Nunca me preocupei em tirar fotos da árvore nativa, nem do fruto, até começar o Come-se. Também nunca tinha pensado em preparar nenhum prato com as frutinhas. Bastava comê-las. Acontece que quis fazer tudo isto depois de abrir o blog, porque queria mostrar. E todas as vezes que ia a Fartura, visitava a árvore na esperança de conseguir frutos maduros. Ih, a safra acabou na semana passada, dizia meu pai. Ah, os frutos ainda estão cabeludos, lamentava de outra vez. Poxa, já acabou e eu esqueci de guardar pra você, se desculpava ele na próxima visita. E assim foi durante todos estes últimos anos. Nunca mais peguei uma fruta madura. E o sítio foi vendido sem que eu tivesse conseguido fotografar e cozinhar taiuvas.
Assim como a amora, da mesma família das Moráceas, seus frutos também são compostos (infrutescências) com superfície tuberculada e nunca mudam de cor. Os frutos mostram que estão bons para comer quando estão graúdos, mais macios, mas nunca moles como as amoras maduras. Infelizmente não há cultivo comercial, mas a planta é encontrada por todo o Brasil. Segundo o livro "Frutas Brasileiras e Exóticas Cultivadas", de Harri Lorenzi e outros, só não é encontrada na Mata dos Pinhais. De qualquer forma, a gente não costuma ver taiuveiras por aí. Se bem que, com os frutos tão discretos, às vezes a gente vê mas não bota reparo. E agora que não temos mais a taiuveira de Fartura, guardo na lembrança apenas a foto da árvore de boa sombra e dos frutos verdes e ainda cabeludos que eu usava para assustar as crianças dizendo que eram taturanas.
E, por falar no livro do Harri Lorenzi, logo no prefácio há um bom causo contado pelo engenheiro agrônomo Carlos Jorge Rossetto. Aqui, um trecho:
Para citar um exemplo ilustrativo, na minha infância, na cidade de Pompéia, interior do estado de São Paulo, eu e outros meninos trepávamos numa tiauveira para comer taiuvas (amora branca). Era uma festa, a meninada no alto da árvore disputava os frutos maduros, grandes e deliciosos. A árvore não era espinhosa, tanto que a meninada subia com muita facilidade, ao contrário das taiuveiras que hoje vejo. Aquela taiuveira era muito produtiva. Frutificava todos os anos em abundância. Nas viagens, sempre que vejo uma taiuveira, faço questão de examinar pra ver se se compara àquela de Pompéia. Nunca descobri uma igual. Nunca mais vi a meninada em cima de uma taiuveira saboreando seus frutos. Já agrônomo, trabalhando como pesquisador no Instituto Agronômico de Campinas, tomei consciência de que aquela taiuveira da minha infância era uma planta excepcional e que eu deveria ir até Pompéia tentar coletar seus frutos e sementes para multiplicá-la e salvá-la. Viajei de Campinas a Pompeia com esse propósito, mas ela lá não mais estava. Em seu lugar construiram uma casa.
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