Comida Saudável
Jaracatiá, a tâmara dos trópicos
Aqui em São Paulo quase ninguém conhece o jaracatiá, mas quem é íntimo dos doces da roça sabe bem o que é o mamão-do-mato, mamão-bravo ou chamburu, espontâneo nas nossas paisagens. Este parente do mamão (Jaracatia dodecaphylla A.DC) faz parte das minhas melhores lembranças de menina. Passávamos as férias no sítio dos meus avós, no Paraná. No meio do cafezal o jaracatiazeiro era quase praga. Os frutos, pequenos, quase sem sementes, precisam ser deixados de molho para sair a seiva leitosa (papaína, como o mamão), e depois viram geléias e doces em calda como este da foto, feito pela Evanilda Perissinotto, no almoço do Slow Food, em Piracicaba. Mas o que eu comia era feito com o miolo do tronco e não com os frutos. Já vi este doce ser chamado de doce de pau (também tem doce de pau de mamão, em Goiás). Como se trata de uma árvore mole como o mamoeiro ? mais alta e ramificada que ele, mas igualmente mole, não sei se tempestades ou mãos interesseiras a derrubavam. O fato é que logo o tronco macio de miolo branco e crocante era descascado e ralado. Lavado, espremido, cozido com açúcar e cravo, virava uma espécie de cocada de sabor incomparável. Cresci, envelheci e nunca mais comi o tal doce. Por isso, quando a Evanilda me contou que serviria doce de jaracatiá, não agüentei de tanta euforia, afinal a planta já figura nas listas de espécies em risco de extinção em vários estados e até no Cerrado, onde crescia em abundância. Minha surpresa foi que o doce dela é uma compota feita com os frutos que sabem a tâmaras, simplesmente maravilhosos. Muito mais sustentável, mais Slow Food que o doce de tronco, que exige que se mate a planta pra ralar o pau . Fiquei sabendo que a iguaria é símbolo da cidade de São Pedro, o que garante a sobrevivência da espécie pelo menos por lá. A saudade ainda continua, mas agora só como se souber que a árvore caiu com o vento. Ou que foi cortado a um palmo do chão. Segundo minha mãe, assim a planta rebrota. Rente ao chão, morre. E se for cortada muito alto, apodrece.
Serviço: A Embrapa Cerrados venderá mudas a partir de outubro (ainda estão pequenas, em tubetes). É só ligar para lá: (61) 3388-9898 (a informação apareceu no último Caderno Agrícola do jornal Estadão)
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