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Acrelândia 2012: piquenique na escola
No começo da semana fomos, Fernanda e eu junto com a nutricionista da merenda escolar, Thassiane, até a escola rural José Rodrigues Casseminiro, no Ramal da Floresta, mais conhecido como Ramal do Bigode, para fazer o convite para um piquenique.
As crianças que estudam ali moram nos ramais. Ramal é o nome das estradas de terra que levam a comunidades rurais. Dizer que mora no ramal já é dizer que mora na zona rural.
A cidade de Acrelândia acabou de fazer 20 anos no sábado e praticamente todo mundo que vive na zona urbana também tem sua colônia nos ramais. Colônia é o nome que se dá ao sítio, roça, chácara, fazenda. Foi a partir destas propriedades que o município começou a se desenvolver ali em plena floresta amazônica, desmatada para dar lugar a gente, agricultura, pecuária. Então, não se pode esperar encontrar em Acrelândia o acreano típico, mas gente que circula eternamente por este Brasil em busca de oportunidades.
Crianças que acompanham os pais pra lá e pra cá são morenas, lourinhas, gaúchas, paranaenses, catarinenses, que nasceram no Paraná, moraram no Paraguai e se assentam agora ali, sem saber se ficam, se vão. Algumas gostam de pepino, outras se acostumaram ao cupuaçu que agora tem nos quintais. Umas comeram uvas e peras quando bebês e sentem saudade, outras nunca provaram, preferem o caju. Em comum, todas adoram maçãs argentinas que podem ser encontradas nas gôndolas refrigeradas dos supermercados, ainda proibidas pela raridade naquela terra quente e úmida, boa para bananas compridas, cajus, jambos, cupuaçus, laranjas e cocos. Aos poucos, vão aprendendo a esquecer uvas e peras e a gostar de cupuaçus que se perdem debaixo das árvores, no chão forrado de folhas úmidas qual ninho. Cupuaçus, nesta época do ano, despencam de maduros e só estão bons assim, quando caem. Só não peçam que esqueçam as maçãs.
No convite, pedimos às crianças que levassem o que quisessem, o que tivessem no quintal, o que a mãe pudesse fazer ou qualquer coisa que houvesse na despensa e julgassem ser bom para dividir com os colegas. A ideia era discutir de uma forma leve sobre os alimentos que levassem, além de provocar a pura diversão no encontro em volta de uma toalha para brincar, compartilhar e concretizar os sonhos de criança com os piqueniques de desenho animado. Todas sabiam o que era um piquenique mas nunca tinham feito. Coisa de Zé Colmeia, achavam. Ficaram animadíssimas.
Convidamos apenas três classes - para que depois professores se animassem com o modelo e estendessem aos demais. Piquenique pode ser pretexto bom para ensinar matemática (a fração dos bolos e tortas), biologia, geografia, artes, história e outras obviedades que os ingredientes da mesa despertam. Pensamos em fazer o piquenique no páteo da escola, mas não havia gramados nem sombras no terreno pouco convidativo. Então deixamos combinado que faríamos na maior sala, que foi limpa e teve as cadeiras afastadas.
No dia combinado, uma sexta-feira, fizemos a nossa parte - pão de cupuaçu, torta-pavê-de-pão com recheio de cupuaçu e cobertura de chocolate com castanhas, chá de capim-santo, pão de abóbora com castanha, mamão picado e salada de pepino, que eu achei que sobraria.
Aliás, achei muitas coisas que se provaram preconceitos. E Fernanda também. Achamos, por exemplo, que as crianças levariam produtos industrializados como biscoitos recheados, suco de pó, refrigerantes, isoporzinhos etc. Para nossa surpresa, elas foram nos passando as coisas pela janela para arrumarmos na toalha que levamos. E o que apareceram? cupuaçus aos montes, suco de cupuaçu, mexericas, laranjas, mandioca cozida e frita, bolinho tipo cueca-virada, bolo de fubá e algumas maçãs. Thassiane levou polpa de graviola que virou suco na cantina da escola. Conversamos um pouco sobre o que havia na mesa e ficamos observando a alegria dos pequenos. Muitos vieram dizer que iriam fazer piqueniques com outros amigos da colônia, com os irmãos, com as famílias. Meninas mais velhas vieram tirar satisfação do porque de não terem participado. De qualquer forma, já haviam falado com o professor de artes para incluir a atividade na disciplina e já estavam todas empenhadas na organização. Ficaram de mandar fotos - estou esperando.
Saímos de lá satisfeitas com a experiência e esperando que outras classes e professores se animem com a ideia, afinal isto é uma coisa simples que não precisa de nossa presença para dar certo, que pode estimular crianças a se alimentarem bem, a dar valor aos produtos locais e a tirar proveito deles. Sem contar que elas ficam felizes. Enquanto municípios pensam em lousas digitais e tablets para professores, é bom que se saiba que há outras ferramentas que nada custam e problemas muito básicos a serem resolvidos, como a merenda escolar, muito pobre naquela escola, a falta de conforto nas salas de aula e, talvez o mais importante de tudo, investir na formação e remuneração dos professores.
Algumas fotos |
Saco de laranjas |
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Biscoitos tipo cueca-virada, embrulhado com capricho |
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Maçã, todo mundo quer uma fatia |
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Nossa parte: pão de cupuaçu e pão de abóbora |
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Garrafa de coca-cola com suco de cupuaçu |
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Nossa parte: pães, manteiga, bolo de aipim e jerimum, pavê, mamão, pepino |
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Jessiane levou aipim frito |
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E cupuaçu, quem tem? Eu, eu, eu |
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Lorrane, que vai ser médica, comeu muito pepino na vida e disse que enjoou |
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Claudiane diz que gostou de tudo |
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O que sobrou |
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Do pepino que temperei com rúcula, pimenta, lasquinhas de tomate, limão |
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Só Pablo, comeu três pratos |
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Thassiane, Fernanda e eu eu, cansadas mas safisfeitas |
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As crianças, também. Fazendo farra no ônibus de volta pra casa |
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