Eu tinha acabado de me formar na universidade e trabalhava numa cozinha experimental. Isto tem mais de 15 anos. Estávamos testando receitas portuguesas e minha função era coordenar o trabalho das cozinheiras, organizar as compras e resolver pepinos como encontrar ingredientes inusitados. O primeiro deles foi descobrir onde encontrar os tais grelos para um arroz lusitano. O primeiro lugar que me ocorreu ligar foi para a Casa Santa Luzia, a quem sempre recorríamos no desespero. Grelos? frescos? hahaha./ É, grelos frescos sim, vocês têm? E o moço só fazia rir. Eu insisti e ele passou para outro com sotaque nordestino ainda mais carregado. Este riu como o quê. E quando repetiu: grelos?frescos?, um eco de gargalhadas entrou pelo telefone. Não conseguiam nem falar. Por fim, desligaram o telefone na minha cara de paisagem e devem ter passado a tarde rolando de rir. E eu lá sabia que em algumas regiões do Brasil grelo era um dos apelidos mais chulos para clitóris? Só descobri anos mais tarde e aí fui entender a algazarra e excitação toda dos moços. Bem, se no Santa Luzia não havia grelos frescos, onde mais encontrar? Acabamos usando folhas novas de mostarda e de brócolis no arroz de grelos. Não me lembro, mas acho que deu certo.
Pois outro dia estive no Santa Luzia e encontrei finalmente estes grelos da Galicia, com um pouco de atraso para os meus testes mas não para matar minha curiosidade. Não frescos, mas congelados. Chegando em casa, a primeira coisa que fiz não foi preparar a iguaria, mas sim repetir a mesma ligação de 15 anos ao Santa Luzia para conferir se alguma coisa mudou de lá pra cá. Alô, por favor, o senhor tem grelos? Um silêncio.......... , nenhuma risada. Ela vai estourar, pensei. Repeti com outro acento. Ah, sim, acho que tem, um minuto. Ufa! Voltou. Olha, tem dele congelado, um quilo R$ 20,80. Ah, tá bom, obrigada! Todo mundo sabe que os funcionários do Santa Luzia são educadíssimos, treinadíssimos, super gentis. Mas grelos foi demais para eles naquela época. Fiz o arroz adaptado da receita da amiga portuguesa Elvira, do Elvira Bistrot, que adaptou do livro da Maria de Lourdes Modesto (Cozinhar com Vegetais) e servi com os agulhas fritos, cuja receita e a promessa do arroz estão aqui. Ficou muito bom, imagino que melhor se os brotos fossem frescos. Mas combinou muito.


Da Galicia, onde são verduras de inverno, consumidas frescas. As folhinhas descongeladas, abertas. No sabor, lembram nossas folhas de mostardas, só que mais suaves.
Ah,
grelos são brotos ou folhas bem novas de verduras. As que comprei são de nabo. Mesmo congeladas, mantém o aroma de brotos de mostarda somados com folhas novas de couve. Se não encontrar grelos facilmente, não saia por aí perguntando que poderá se dar mal. Procure por brotos novos de verduras como nabos, rábanos e rabanetes (ou use as folhas bem frescas e jovens destes legumes orgânicos) e tudo dará certo.
Arroz de grelos
Meia cebola picada
1 dente de alho socado
1 colher (sopa) de banha (por minha conta) e 1 de azeite
1 xícara de arroz cateto (ou tipo batatais, mais cremoso que o agulhinha)
1 xícara de grelhos congelados - descongelados, espremidos e picados 1 colher (chá) de sal
2 xícara de água fervente
Numa panela, em fogo alto, refogue a cebola e o alho na gordura com azeite até começarem a dourar (sem deixar escurecer). Junte o arroz e mexa por 1 minuto. Junte os grelos e o sal, mexa e adicione a água quente. Quanto estiver fervendo, tampe a panela, abaixe o fogo e cozinhe por cerca de 15 minutos ou até que a água tenha sido absorvida e o arroz esteja macio e úmido.
Rende: 4 porções
Nota: gosto de arroz meio malandrinho, molinho, cremoso. Mas, se quiser, use arroz agulhinha para deixa-lo mais solto.
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