Família Dib & Gassen em Fartura
Comida Saudável

Família Dib & Gassen em Fartura



Miniaturas de Rui Gassen e bolo de matchá da Loja do Chá (onde algumas peças dele podem ser compradas lá - as xicrinhas e o prato já são meus)
Acho que agora é pra valer. Depois do carnaval o ano começa de verdade. Não por isto, ontem voltei pra casa cabisbaixa e melancólica do aeroporto. Estive mal acostumada estes dias com a presença alegre de nossos amigos gaúchos que partiram deixando uma saudade de doer. Já falei deles aqui uma porção de vezes, mas vou resumir pra quem chega: Mariângela foi uma das primeiras pessoas desconhecidas a comentar no meu blog e a escrever para o meu email. Os demais, até então, eram blogueiros, amigos e parentes, só para dar aquela força. Num dos posts sobre os pães da Clô Dimet eu disse que poderiam me escrever que eu mandaria uma das receitas não postadas. E a Mariângela escreveu, pedindo. No ínicio achava até que ela fosse de Poá, uma cidade aqui perto de São Paulo, pois sempre escrevia como anônima e assinava Mariângela de POA. Só depois de um tempo as coisas clarearam. Até maio do ano passado, nosso contato era virtual e a coisa foi fluindo naturalmente, sem pressa, como tem que ser. Naquele mês cheguei à porta dela sem medo, com mala, cuia e família. Aceitando o convite, claro. Foi amor familiar instantâneo. Sei que para muita gente isto parece meio adolescente e havia, sim, todo o risco do mundo de ser um encontro frustrante para ambas as partes, como costuma acontecer, principalmente porque envolvia outros ânimos incógnitos. Mas algo me dizia que estavam ali almas gêmeas, daqueles amigos que já era pra ter encontrado um dia, lá na infância, mas que o destino adiou, talvez para o momento certo da maturidade. E assim foi. Gostamos tanto da recepção que voltamos mais uma vez. Nossas aventuras foram todas relatadas aqui. Quem tiver curiosidade, basta digitar na caixa de busca "Porto Alegre". E agora foi a maior felicidade tê-los aqui retribuindo a visita. Paramos tudo nestes dias: trabalho, computador, televisão. Foram só livros, músicas, passeios, comidinhas, boa conversa e muita diversão. Voltei pensando na probabilidade desta situação se repetir por aí ao acaso. Quase zero, arrisco. Nestes encontros de mulheres quase amigas, com os maridos desconhecidos a tiracolo, quase nunca acontece uma identificação entre os homens que devem ficar a pensar: o que estou fazendo aqui? Não foi o nosso caso. Marcos e Rui conversam sobre poesia, arte e música. Não falam de futebol, de carros ou carnaval. Fazem fazer café; trocam idéias sobre cerâmica e cirurgia; ficam horas em silêncio cada qual fazendo suas coisas sem se constranger; não fazem barba nos dias livres; botam um bermudão e uma camiseta e dizem que está bom assim; elogiam suas mulheres em público; babam pelas filhas únicas e falam coisas com sinceridade desconcertante do tipo "desculpe qualquer coisa" ao que o outro responde "tá desculpado". Recentemente se animaram a fazer blog para escreverem o que lhes viessem à cachola e um é comentador quase único no blog do outro e vice-versa (www.ruigassen.blogspot.com e www.divertimentoclarinete.blogspot.com). E, claro, Mariângela e eu tagarelamos muito ao lado deles, adoramos estas criaturas fantásticas e encantadoras, cada um e cada uma a seu modo, e nos divertimos bastante juntos. Mariângela é uma amiga divertida, solidária, inteligente e do tipo animada, que se apronta rapidamente e topa todas a qualquer hora. Como eu. Fico a todo momento agradecendo tê-la conhecido. E a filha, Laura, é uma das meninas mais inteligentes que pude conhecer. É viciada em livrarias e caderninhos - onde desenha, escreve histórias e treina alemão (depois arranca as folhas e joga fora). E ainda tem respostas complexas e rápidas, de humor refinadíssimo, para qualquer situação (ai que inveja). Educadíssima, achou minha comida parecida com a que come em casa - assim, meio estranha, com coisas esquisitas, diz ela, mas adorou o arroz-com-feijão convencional e delicioso da dona Olga, minha mãe.
Nestes dias andamos muito a pé e sobre trilhos, corremos rindo pra alcançar o trem e fizemos muitas coisas legais, como ir ao Mocotó e conversar com o pai do Rodrigo (segundo ele, o filho é formado em gastronomia e ele, em mocotologia); ver a exposição da Margareth Mee na Pinacoteca; assistir ao Fundo do Mar, no Imax; espiar os Mestres Latino-americanos e a exposição sobre o Saramago no Instituto Tomie Ohtake; comprar feijão de corda no Mercado da Lapa; brincar aprendendo na Estação Ciências; andar e comprar ferramentas na Rua Florêncio de Abreu; comer carne de sol no Empório Nordestino, na Freguesia do Ó; comer pizza na Pizzaria Ritto, na Leopoldina; ler livros na Livraria Cultura; tomar chá com a também amiga Carla Saueressig, no Shopping Iguatemi e viajar para Fartura, onde esquecemos que era Carnaval.
Para os gaúchos a sensação foi torrar e moer o café que meu pai colheu. Mariângela, nascida em São Paulo e criada em Espírito Santo, conhecia todo o processo, mas para Rui, descendente de alemães do interior do Rio Grande do Sul, tudo aquilo era desconhecido e mágico. Logo, assim que ele plantar tudo o que levou daqui e se reorganizar no atelier, deve postar algo a respeito. Aguardem. Fora isto, Rui reviu e devorou araticuns da infância e subiu na jaboticabeira; Laura ganhou uma peteca feita pelo meu pai; correu do peru e brincou com os patinhos; Mariângela e eu colhemos feijão de corda e debulhamos pimentas cumaris e todos nós comemos a boa comida da dona Olga - quiabos fresquíssimos, caxi em salada, frango caipira com urucum, creme de milho inguirim, doce de abóbora e cafezinho fresco todo dia.
Enfim, foi uma visita leve que deixou saudade. E deixou ainda umas cerâmicas lindas de presente, além de butiás, geléias e tantas lembranças boas.



Marcos lendo e Rui desenhando uma leiteira (Peschiera fuchsiafolia Miers), inspirado por Margareth Mee.
Rui moendo o café que ele próprio torrou, enquanto Laura deve estar dando alguma explicação científica
Marcos e Rui preparam o café que acabaram de torrar e moer. Aqui, na casa da minha mãe.
Laura praticando arvorismo, sob olhar cuidadoso dos pais
Na varanda da minha casa. Enquanto Laurinha, Mari e eu debulhávamos pimentas cumaris, Rui observava os pássaros.
Pimentinhas cumaris colhidas
Família gostosa
Baby chuchu
Aqui come-se bem. Até as lagartas
Rui é gaúcho, tchê! Não tem medo de lagartinha.
Caqui chocolate branco, pronto pra comer - havia um pé carregado no sítio.
Meus pezinhos de araruta vão que vão
Araticum , uma anonácea silvestre com pouca polpa, mas dulcíssima

A jaqueira carregada

O jiquiri, um matinho de comer, deu frutos como jiló (acho que não se come)
Rui e Seu Osni, nosso vizinho em Fartura, na jaboticabeira de casca fina
Os tamarillos ou tomate de árvores (a árvore continua carregada)
As rosquinhas de nata da Dona Olga




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