La culinaria y la nutrición en la expedición amazónica: un lujo
Comida Saudável

La culinaria y la nutrición en la expedición amazónica: un lujo



Quando cheguei naquele pedaço meio devastado da Amazônia, coberto por um céu de azul infinito e coalhado de nuvens de algodão, não tinha a menor ideia do que encontraria além de grandes bananas da terra e umas poucas castanheiras em pé.  Mas, vasculhando quintais e terrenos abandonados, nos deparamos com frutas vistosas plantadas pelos primeiros moradores, algumas hortas de fundo de quintal e uma vastidão de jardins desnudos esperando umas sementes fecundas. Pelas hortaliças que vi crescerem bem em terra adubada, regada e corrigida, percebe-se que há um certo descaso do poder público que poderia incentivar a interação da escola agrícola da região com os moradores, capacitando-os para cultivar a própria comida.

Nos mercados as hortaliças são raras, não indo além das abobrinhas, quiabos, berinjelas, batatas, tomates, repolho, alface e pimentão. Geralmente com uma qualidade bem desestimulante.  Então, o que fiz foi reunir tudo o que encontrei no quintal de um e no pomar de outro numa grande mesa. Lúcia e eu voltamos com cestas cheias. Tamarindos do seu Sinésio, carambolas da dona Edna, jambos e capim cidreira da dona Vera Lúcia, pimentas da dona Diná, cajus não sei mais de quem, folhas de bananeira, jacas e mamão verde de terreno vazio e mangas precoces (o único pé que encontramos com mangas já graúdas) na casa de uma menininha faminta.

Aliás, esta foi a situação que mais me comoveu. Já passava das três da tarde, avistamos as mangas de bom tamanho, batemos palma e uma menina de uns 7 ou 8 anos saiu à janela. Perguntamos pela mãe, disse que não estava. Será que podemos pegar manga?/ Podem entrar./ Cadê todo mundo?/  Minha mãe tá trabalhando./ Onde?/ Não sei./ Que horas ela volta?/ Não sei./ Já almoçou?/ Não!/ Não vai almoçar?/ Não sei./ Não tem comida?/ Não!/ Não tem mais ninguém em casa?/ Não./  Entramos no quintal, pulando latas de cerveja vazia e desviando de fraldas descartáveis rasgadas por cachorros e outros lixos. Um quintal enorme e fértil com mangueira saudável e produtiva,  tamarindeiro e outras espécies vivas. A menininha de rosto sujo, roupas puídas e cabelos desgrenhados juntou-se a nós e subiu na árvore como uma pequena sagui linda e esperta, chupou um tamarindo fazendo careta e ficou por ali, indefesa, sem saber a hora do almoço. Saí de lá com um aperto no peito pedindo a Ele, caso exista, que proteja a inocente que deixou duas estranhas entrarem na parte do fundo do seu quintal sem que ninguém visse.

Mas, voltando..., com estes ingredientes fiz alguns pratos um pouco inusitados, usando quase nada comprado no supermercado.  Salada de mamão verde com coentro e pimenta, jaca verde no leite de coco, tapioca recheada de banana-da-terra (banana comprida),  pão de banana com castanha, fritada de beldroega, salada de frutas com carambola, banana e jambo e, com ajuda preciosa da Lúcia e da Bárbara (doutorandas de nutrição),  suco de todo tipo: tamarindo, carambola, carambola com couve, limão com capim santo e manga verde. Os cajus vermelhos e brilhantes também enfeitaram a mesa, mas ainda estavam verdes. Se não, teriam se transformado em moquecas e outros pratos além de sucos. Não sei se consegui plantar alguma inquietação, mas as pessoas gostaram das novidades, afinal viram que não precisam depender apenas do que é vendido, que suco em pó não é a única opção de bebida e que podem fazer escambos com os vizinhos, trocar sementes e inventar com o que aquela terra produz. E isto não é pouco.

Na casa onde  ficamos, não só cozinhei algumas vezes nosso jantar mas testei algumas ideias fazendo de cobaias os companheiros de jornada (além do pessoal da nutrição da USP, também um grupo de pesquisadores de doenças tropicais). Os professores Ariel e Alejandro, do departamento de parasitologia do ICB-USP, e  Marcia Castro, de Harvard,  foram ainda me prestigiar no dia da oficina (na foto, no canto direito, Ariel em pé, Márcia de laranja).

Bem, os elogios que nos deixam felizes, é bom dividir. E o Ariel escreveu em seu blog, em  delicioso espanhol,  sobre esta expedição amazônica na cozinha e ainda mostra fotos das pessoas da casa - afinal, minha câmera é viciada quase que exclusivamente em comidas. Veja lá:
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