O Mercado está passando por reforma e ganhando cores alegres
Verduras e legumes do Ceagesp
Produtos nordestinos. Menos que no Mercado da Lapa Carnes secas e linguiça Sadia
Dona Djanira, de roxo, freguesa fiel há mais de quarenta anos, ganha mexerica de brinde da dona Matilde Porcinelli Tomaz, permissionária no Mercado desde a inauguração, em 1967
Na banca da Dona Matilde, atemoias direto do produtor, em Santa Isabel-SP, e romãs de fundo de quintal
Mandiocas já descascadas, na água Frutas frescas no pote
Comprei pamonhas fresquinhas, aprovadíssimas
Já estava no trem com sacola na mão rumo ao Mercado da Lapa, uma estação depois da minha. Antes de descer, mudei de intenção e decidi comprar cabeças de galinha em outra freguesia. Mais uma estação e já estava no Metrô Barra Funda, de onde parti para o Brás. Desci e fiz baldeação novamente para um trem que seguia para a zona leste. Cerca de meia hora depois já estava em São Miguel Paulista. Fazia tempo que queria conhecer o Mercado Municipal daquele bairro (Mercado Municipal Américo Sugai) e não teria sido tão fácil se houvesse programado, como já fiz algumas vezes sem sucesso. Estou acostumada com o Mercado da Lapa e no começo estranhei as cores, os boxes, as pessoas. É um mercado limpo, organizado, sem grandes novidades em matéria de produtos, pelo menos para mim que tenho um bom mercado por aqui, mas certamente é uma ótima alternativa aos hipermercados. Algumas bancas são como lojas, onde se podem entrar, escolher. Há loja de vinho, de pão, de frios e até livraria (no Mercado da Lapa também está acontecendo isto, de se instalarem lojas estranhas ao objetivo destes estabelecimentos públicos). Além dos clássicos açougues, peixarias, bancas de frutas e verduras. E tem até pamonha, cural e frutas cortadas e embaladas para comer na hora ou levar pra casa. Alguns boxes são como entrepostos das lojas da zona cerealista ou do Ceagesp. E os vendedores se vangloriam disso. Quando perguntei no box de verduras se havia algum produto local, já que São Miguel não está longe do cinturão verde de São Paulo, a resposta foi "não, são todos do Ceagesp", como se isto fosse uma credencial de legalidade. Da mesma forma, quando perguntei a outro permissionário de onde vinha aquele arroz da terra, que é aquele arroz vermelho difícil de se encontrar por aqui, ele disse que não tinha a menor ideia, que comprava tudo na zona cerealista. Já a simpática Dona Matilde, que tem o box de frutas desde a inauguração do Mercado, em 1967 (só mais um box, o de verduras, permanace com o mesmo dono desde o início) ainda tem umas atemoias que não vem de longe - de Santa Isabel. Embora ela ressalte o fato de virem direto do produtor, inclusive colocando plaquinhas, a mesma importância é dada para a procedência das uvas do Chile (não tenho nada contra as uvas chilenas por aqui .... mentira, tenho sim), exibindo-as para mim. Enquanto isso, as romãs locais, imperfeitas e lindas, estavam lá meio escondidas, sem identificação alguma, embora tenham vindo do quintal de alguém de perto, segundo ela. Acho que ainda demora para que vendedores e consumidores brasileiros percebam o valor dos produtos locais, que não tenham viajado muito. No Mercado de Florença, na Itália, comerciantes chegam a abusar dos termos caseiro, artesanal, local, regional, direto do produtor ou típico em plaquinhas com forte apelo de marketing. E o consumidor entende e valoriza.
Aqui, infelizmente, na cabeça de muita gente, tudo isto é sinônimo de alimento ilegal, que pode colocar em risco a sua saúde. Então, é preferível um caminhão levar abobrinhas de Itaquaquecetuba para o Ceagesp, onde são classificadas em tamanhos padronizados, para só então voltarem ao Mercado de São Miguel Paulista, ali do ladinho do produtor.
Os Mercados Municipais deveriam ser estes pontos de referência (e hoje resistência) para a venda de artigos direto do produtor, como já foram um dia. De qualquer forma, a esperança é a última a perder os sentidos e eu recomendo que, se tiver oportunidade, vá ao Mercado de São Miguel, ao da Lapa ou a qualquer outro e que demonstre interesse em saber de onde veio o produto que vai comprar ou que mostre seu apreço quando se tratar de um produto local, artesanal, de pequenos produtores. Afinal, a gente não quer só coisa Sadia. Eu não quero.
Mercado Municipal Américo Sugai
Avenida Marechal Tito, 567
Centro Comercial de Sâo Miguel Paulista
Tel. 11-2297-0549
Funciona de segunda a sábado, das 8 às 19 horas