Estas mudinhas trouxe de Fartura e, embora a planta prefira as temperaturas mais amenas do outono e inverno, estão indo muito bem aqui no meu quintal com esta chuvinha boa (boa quando cai, assim, só gentilmente). Lá no sítio elas nascem espontaneamente na roça de café. E são lindas. Ainda que a gente o chame de almeirão roxo, só as nervuras são arroxeadas, mais para o vermelho colorido de antocianinas. Quando adultas, as folhas chegam a uns 30 centímetros e eu gosto de comer pura, inteira, bem frescas, direto do pé. São amargas, mas não muito e têm retrogosto adocicado. Mas por lá o que não falta é salada feita com ela, tomatinhos caipiras, cebolinha verde e limão rosa. Às vezes vai pra panela. Jogada sobre azeite com alho frito e mexida só para aquecer e murchar. Aceita bem uns pedacinhos de bacon.
Para quem não sabe, o almeirão (
Cichorium intybus L.) é da mesma família da alface, do dente-de-leão e da serralha, a das Asteraceas. É originário da Europa Mediterrânea e cresce espontaneamente em grande parte da Ásia e norte da África. Pertence ao mesmo
gênero da chicória (
Cichorium) e à
mesma espécie da catalônia - ambos são variedades de
C. intybus. Se não me engano, na Itália tanto o nome
radicchio como
cicoria se aplicam para as chicórias em geral (escarola, frisée, endívia, almeirão). No Brasil é também conhecido como ?chicória amarga? ou ?chicória selvagem?. No Rio Grande do Sul, o almeirão é uma das chicórias mais consumidas pelos imigrantes italianos e é conhecido como radice - uma corruptela de radicchio. Em castelhano também se diz
amargón. E é justamente por isto que gosto do almeirão - pelo amargor, dado por substâncias presentes na seiva de toda a planta. É uma de suas características mais marcantes e é por isto também que atribuem à verdura virtudes medicinais como estimulante do apetite, diurético e hepatoprotetor. Na foto acima dá pra ver todos os veios coloridos de vermelho - por dentro deles percorre, da raíz às folhas, o látex amargurado por vários compostos diferentes - na raiz, a lactucopicrina, cicorina, lactucina, intibina, inulina entre outras; nas folhas, colina, arginina, inulina, etc. Sabe-se que na Roma antiga ele era usado mais como medicamento. Mas, sorte nossa que agora podemos ter as duas coisas juntas. Claro, sorte apenas para os que amam.