Comida Saudável
Degustação de mel de abelhas nativas
Betty Kovesi, da Escola Wilma Kovesi, ficou tão entusiasmada com o debate sobre Mel de abelhas nativas, melíponas, promovito pelo Entre Estantes e Panelas, na Livraria Cultura, que resolveu sair em busca de exemplares para se degustar, já que prudentemente não foi possível provar do mel entre os livros, a fim de não melar, melecar. Se bem que melecar vem de mel e como este nectar de melíponas, segundo a legislação em vigor, não pode ser chamado de mel, poderia ter sido degustado na livraria sem melecar ou melar (aliás, mel devia ser o verdadeiro nome do nectar das Meliponáceas. Sei lá, seguindo a lógica, o das Apiáceas poderia ser pel, apel). Por enquanto, vamos aqui continuar chamando ambos de mel.
Mas na escola, que Betty abriu gentilmente para alguns convidados e interessados, pudemos ouvir Roberto Smeraldi e Carlos Alberto Dória falarem um pouco sobre este ingrediente com potencial enorme na gastronomia atual - além de ser raro, ter manejo artesanal e uma ligação forte com o pequeno produtor (e isto, felizmente, tem sido valorizado), é ainda delicioso, tem evolução de sabor e ph com o tempo e oferece uma gama de sabores que variam não só com as espécies de abelhas, mas também de acordo com biomas e floradas.
Smeraldi conduziu a degustação do produto in natura e também com peixe, queijo e carne. Mas seu uso vai além, nas sobremesas e molhos para salada. De preferência, tirando proveito do sabor floral e herbáceo aliado à acidez.
Entre os alunos, além do tititi aqui e ali, ainda rolou uma degustaçãozinha paralela. A Mara Salles, com um potinho de saúvas, já ensaiava a sobremesa que vai servir num jantar com a Dona Brazi. Eu levei alguns vidrinhos com mel de tiúba do Maranhão, da Amavida, de diferentes localidades, que comprei na última feira de agricultura familiar e ficamos comparando o sabor. Com formiga, sem formiga. Chegamos à conclusão de que quanto mais ácido e menos doce, mais o mel combinava com os bichinhos que sabem a capim-santo, melissa, gengibre e citronela. A conferir no jantar, na semana que vem.
Apesar de ser mais úmido, a abelha sem ferrão, como não tem armas de defesa já que os ferrões são atrofiados, para defender sua colmeia produz mais substâncias antibióticas. Daí o fato de ser usado como remédio (além de ser bactericida, age contra inflamações, males dos olhos e alergias).
Obituanbuluvulu: parece que por aqui são mais de 400 espécies de abelhas da subfamilia Meliponinae. Mas nem todas produzem mel aprecíavel. Quando escrevi sobre abelha jataí, o Duarte (que descobri depois ser filho da leitora portuguesa que virou amiga, a Manuela), que é geólogo e morou em Angola, me mandou um comentário e links para fotos de umas abelinhas de nome estranho, veja:
Em Angola, num sítio chamado Quicuco, perto do Lubango, encontrei lá umas abelhas pequeninas que também não picavam (mas que eram altamente irritantes), que também construíam umas colmeias pequeninas. Chamavam-lhes lá obituanbuluvulu e os locais diziam que o mel era bom, mas que eles recolhiam alimento em muitos e variados sítios, não todos recomendáveis (rabo de animais por exemplo...), de modo que não provei do mel. Fotos cá e acolá.
Tartar com mel de abelha nativa: hoje deu vontade de comer no almoço um peixinho com mel de jataí bem fermentado, inspirada no linguado cru que provamos ontem. Tinha só 1 filé pequeno de pescada e fiz uma única porção de tartar. Temperado com cebola picada miúda, folhas de limão kafir, azeite, folha picada de manjericão-anis, suco e raspas de limão-yuzu, sal, pimenta e mel de abelha nativa que foi de novo por cima, misturado com azeite. Polvilhado com flor de sal. Entradinha para um bacalhau. Já escrevi sobre as Melíponas e Jataí aqui. Mais sobre mel, no blog do Dória.
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