Resposta à charada: Ingá de metro amazônico
Comida Saudável

Resposta à charada: Ingá de metro amazônico



Todo mundo há de concordar, esta charada foi suave. Suave, leve, branca. Quem conhece ingá, não se engana, por isto quase todos que responderam, acertaram. Obrigada e parabéns!

Eu já havia lançado uma charada com ingá aqui, mas aquele era  um ingazinho de brinquedo, que a gente rola na boca em busca da substância que a bolinha aveludada promete, e que logo se desfaz em ilusão doce de espuma que se esvai. 

Mas este ingazão, não. É um ingá açu, de metro, de vara, de macaco,  rabo de mico, feijão. Em inglês, ice cream bean; em francês, pois sucre; em espanhol, chalaite, guaba, guama, guamo, guamo bejuco, huaba, inga, pacay. 

São muitas espécies de ingá, mas poucos são assim tão carnudos. Lá em Acrelândia, a Patrycia apareceu com três de presente, comprados em Rio Branco. As sementes estavam todas germinando, com longas raízes que corriam ao longo da vagem e folhinhas  verdes já despontando na escuridão da capsula fechada.  Das três, comi duas, uma lá, outra aqui. Uma delas levei para a Oficina de frutas e uma das crianças levou embora no final. De qualquer forma, as duas vagens renderam sementes germinadas para plantar. Não tirei foto neste final de semana, mas as plantas estão indo bem em Piracaia. 

O Inga edulis é uma fabácea (ex-leguminosa) comum em toda a Amazônia, mas também pode ser encontrado em outras partes do país e na América Central. Minha  esperança  é que vingue em Piracaia, onde já temos alguns ingazeiros mirins produzindo.  A superioridade alimentar deste, no entanto,  já se vê no nome científico. Em latim, edulis quer dizer comestível. Não que os outros não sejam, mas este, se assim pode ser dito,  é muito mais. É que a polpa é mais densa e se desprende com facilidade das sementes escorregadias, como grandes pedaços mastigáveis  de casaco de pele de raposa branca, com a vantagem de que neste caso podemos comê-la sem dilemas morais.  Comi pela primeira vez na Ilha do Marajó e não me esqueço da sensação gostosa,  como a de comer um merengue feito de lã, algodão e seda.  

Como os outros ingás, é pobre em acidez e, como o caqui, não tem sabor e aroma pronunciados, mas a somatória de textura, umidade e doçura é que faz a graça do ingá de metro.  Infelizmente não consegui preparar nada com o arilo que a gente vai comendo sem se empanturrar. Tampouco encontrei receitas com ele. Talvez na Colômbia, Peru, México, haja algum preparo, mas aqui não achei nada a não ser reminiscências de infância.  Sorte que o amigo Pablo está trazendo mais do Acre e quero ver se invento algo, afinal este  ingá pode ser mais que nossas doces lembranças.  

Saiba mais sobre as espécies de ingás dos Incas, no livro:  Lost Crops of the Incas. E aprenda, no ótimo blog Árvores de São Paulo, a reconhecer um ingazeiro pelo nectário, uma glândula secretora de néctar localizado entre as folhas. As formigas são atraídas pela oferta e, em troca, defendem a planta de outras agressões - indiretamente, claro, pois só querem mesmo é defender sua fonte de alimento fácil.






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